Bolsonaro confirma troca na Superintendência da PF no Rio, mas nega interferência

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Ao ser perguntado sobre mudança, presidente reage com irritação e manda jornalistas ‘calarem a boca’

BRASÍLIA – O presidente Jair Bolsonaro confirmou nesta terça-feira que o superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, delegado Carlos Henrique Oliveira,  deixará o cargo e será promovido para a diretoria executiva do órgão. Bolsonaro negou, no entanto, que tenha interferido na PF. O presidente reagiu com irritação e mandou jornalistas “calarem a boca” quando foi perguntado se pediu ao novo diretor-geral da corporação Rolando Alexandre de Souza a troca do superintendente do Rio. O ex-ministro Sergio Moro afirmou, ao deixar o governo, que Bolsonaro tinha interesse em trocar comando da PF e as chefias de Rio e Pernambuco. A suposta ingerência está sendo investigada em inquérito aberto por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).

–  Não tem nenhum parente meu investigado pela Polícia federal (no Rio), nem eu nem meus filhos, zero. É uma mentira que a imprensa replica o tempo todo, dizendo que meus filhos querem trocar o superintendente (do Rio). Para onde está indo o superintendente do Rio? Para ser o diretor-executivo da PF. Eu estou trocando ele? Estou tendo influência sobre a Polícia Federal? Isso é uma patifaria. Cala a boca, não perguntei nada (quando repórteres perguntaram se ele havia pedido a troca) – disse o presidente, em tom irritado, e acrescentou: – (O delegado Carlos Oliveira) vai ser diretor-executivo a convite do atual diretor-geral. Não interferi em nada. Se ele for desafeto meu e se eu tivesse ingerência na PF, não iria para lá. Não tenho nada contra o superintendente do Rio de Janeiro e não interfiro na Polícia Federal.

Bolsonaro, pelo segundo dia seguido, disse que não responderia aos questionamentos dos repórteres presentes no Palácio da Alvorada. Na segunda-feira, em rápida declaração, chamou de “fofoca” a acusação de Moro. Nesta manhã, depois de conversar com apoiadores, reclamou da cobertura do jornal “Folha de S. Paulo”, que afirmou que a troca na superintendência da PF no Rio será feita para atender a um pedido de Bolsonaro – a mudança também foi noticiada pelo GLOBO. Quando foi perguntado se havia feito a solicitação para a troca, disse três vezes aos jornalistas para “calarem a boca”.

Horas depois de ter mandado jornalistas calarem a boca, Bolsonaro convidou o fotógrafo Orlando Brito, que tem 54 anos de carreira, para almoçar. No domingo, Brito foi empurrado por manifestantes e teve os óculos pisoteados enquanto tentava ajudar o fotógrafo Dida Sampaio, do jornal “O Estado de S. Paulo”, que foi agredido no ato. No fim da manhã desta segunda, Brito chegou a ser convidado para se juntar a Bolsonaro na rampa do Palácio do Planalto — o presidente saiu por cerca de 20 minutos e cumprimentou os poucos apoiadores na frente do Palácio —, mas optou por não ir. Em seguida, foi convidado para almoçar no gabinete do presidente.

No encontro, segundo o relato de Brito, Bolsonaro disse que não poderia ser responsabilizado pelas agressões a jornalistas, porque a multidão é “incontrolável”. O presidente acrescentou que seria inimaginável alguém acreditar que ele daria ordens para uma pessoa ser agredida. Bolsonaro não chegou a pedir desculpas e argumentou que seria “sacanagem” atribuir a ele a culpa do que ocorreu. No encontro, o presidente voltou a reclamar da cobertura da imprensa, quando ouviu a sugestão de evitar um clima como o desta manhã, quando mandou repórteres se calarem enquanto faziam perguntas. O presidente disse ainda que vai convidar Dida Sampaio para almoçar em outra oportunidade – o fotógrafo do “Estado de S. Paulo” não estava no Palácio do Planalto nesta terça.

Em depoimento à Polícia Federal, Moro indicou provas que indicam as acusações que fez contra Bolsonaro. O ministro entregou mensagens e sugeriu testemunhas que podem corroborar suas declarações. A Procuradoria-Geral da República pediu ao STF que os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). Moro acusou o presidente de interferir politicamente na PF. Publicamente, Bolsonaro já havia defendido a troca do superintendente da PF no Rio. Ele também declarou que tem poder para trocar o diretor da Polícia Federal. O primeiro indicado por Bolsonaro para o posto, o delegado Alexandre Ramagem, não pode assumir o cargo por conta de liminar do ministro do STF Alexandres de Moraes que viu na nomeação indício de violação de princípios constitucionais de impessoalidade. Ramagem é amigo dos filhos de Bolsonaro.

Fonte: O Globo.

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